Caramujo Africano (Achatina fulica)
Origem
O molusco terrestre Achatina fulica, popularmente conhecido como Caramujo Gigante Africano, é uma espécie de caracol originária do Leste da África que foi introduzido em diferentes países dos cinco continentes. Atualmente é reconhecido como uma das piores espécies invasoras em todo o mundo, por causar impactos ambientais, econômicos e de saúde pública. No Brasil, o caramujo africano já foi registrado em 23 estados, ocorrendo em diferentes ecossistemas.
No Paraná foi identificado pela primeira vez em 2000 no município de Paranaguá. Atualmente no Estado, populações do caramujo africano podem ser encontradas em abundância em municípios do litoral e do interior, principalmente naqueles com clima quente e úmido, ocorrendo principalmente em focos de infestação, tais como terreno de casas (quintal, hortas e jardins) e terrenos baldios.
Morfologia
Os indivíduos adultos possuem concha oval-cônica, ápice afilado, de coloração castanha com manchas verticais, irregulares e claras. Geralmente a concha de um indivíduo adulto apresenta entre 7-12 cm de comprimento e pesa em torno de 100 gramas. Alguns, no entanto, podem alcançar dimensões maiores.
Biologia
O caramujo africano A. fulica apresenta hábito noturno e durante o dia fica em repouso abrigado da luz do sol e do calor. Geralmente o caramujo em estado de repouso fica aderido a algum tipo de superfície dura vertical, como: parede, muro, cerca, caule de plantas, folhagens e entulhos. A. fulica se alimenta majoritariamente de vegetais (plantas de diferentes tipos), mas em ambiente antrópico (próximo das casas) pode se alimentar de qualquer resíduo orgânico que esteja disponível ao seu alcance, como: resto de comida, ração animal, fezes, cimento, papel e lixo em geral.
A. fulica é hermafrodita, mas a autofecundação raramente ocorre, e, portanto, para se reproduzir é preciso que um caramujo encontre um parceiro para copular. A reprodução ocorre geralmente no verão, podendo ocorrer ao longo do ano todo em regiões com clima quente e úmido. Os ovos do caramujo africano são depositados no solo, enterrados ou parcialmente enterrados, cerca de 15 dias depois da cópula. Cada postura pode conter de 10 a 400 ovos. As posturas podem ser realizadas várias vezes ao longo do ano, uma ou duas vezes por mês, dependendo das condições ambientais e biológicas. Deste modo poucos indivíduos são capazes de colonizar uma grande área em um curto período.
Resistência
A fase em que o caramujo está em desenvolvimento dentro do ovo e logo após a eclosão, quando os caramujos nascem e abandonam a proteção do ovo, são os dois períodos de maior fragilidade. Na fase juvenil e de adulto, os indivíduos se tornam mais resistentes às condições ambientais adversas. Após o nascimento, um caramujo pode viver aproximadamente por cinco anos.
O principal mecanismo de defesa de A. fulica é a sua concha dura, dentro da qual o molusco pode se proteger de predadores e das condições ambientais desfavoráveis. Se as condições ambientais não estiverem favoráveis devido à intensidade do frio ou do calor, do clima seco ou excessivamente chuvoso, o molusco pode permanecer dentro da concha durante semanas ou até meses e fechar a abertura da concha com uma película de muco esbranquiçada e ressecada, a qual protege o molusco da ação de microrganismos, parasitas e predadores, até as condições climáticas melhorarem. Nesta condição, o molusco entra em estado de estivação, que é um tipo de dormência prolongada que reduz seu metabolismo.
Impactos Ambientais
O maior prejuízo ambiental causado pela introdução do caramujo africano é a perda de biodiversidade. O caramujo africano age no ambiente como uma espécie exótica invasora que compete com as espécies nativas por espaço e por alimento. Neste processo de competição A. fulica supera as espécies nativas por ter tamanho maior e por se alimentar de quase qualquer coisa, possuir uma taxa de crescimento e reprodução mais rápida e elevada, além de não possuir predador. O caramujo africano também pode servir como hospedeiro de vários parasitas e depois de mortos as conchas vazias podem acumular água e servir como reservatório para larvas do mosquito Aedes aegypti.
Medidas de Controle
Observar Informe Técnico nº 01/2018 – DVDTV/CEVA/SVS/SESA
Efeitos na Saúde Humana
Achatina fulica tem também importância para a saúde pública, pois está envolvida na transmissão do nematódeo Angiostrongylus cantonensis, que causa no homem a meningite eosinofílica, zoonose endêmica no sudeste asiático e ilhas do Pacífico, porém com casos no Brasil. Estudos experimentais também demonstraram a possibilidade de atuarem como transmissores de outro nematódeo congenérico Angiostrongylus costaricensis, que causa no homem a angiostrongilíase abdominal, zoonose endêmica da América Central, mas com registros no Brasil.
Meningite Eosinofílica ou Angiostrongilíase Cerebral
Angiostrongylus cantonensis é um parasito do pulmão de roedores, que utiliza em seu ciclo vital, várias espécies de moluscos terrestres e límnicos como hospedeiros intermediários. O homem se infecta acidentalmente ao consumir vegetais e moluscos infectados com larvas de terceiro estádio (L3) do nematódeo liberadas no muco do molusco ao se movimentar, ou ainda hospedeiro paratênicos (crustáceos, peixes, anfíbios e répteis) crus ou mal cozidos. Uma vez ingeridas, as L3 migram através da corrente sanguínea para o sistema nervoso central (SNC), onde sofrem duas mudas e onde finalmente morrem sem poder completar o ciclo, causando a meningite. Desta forma, seres humanos não transmitem a doença. Já os moluscos hospedeiros intermediários se infectam ao ingerir as larvas de primeiro estádio (L1) presentes nas fezes dos roedores infectados. Na fase intramolusco as larvas passam por duas mudas até o estádio L3, infectante para o hospedeiro vertebrado. A aquisição de hospedeiros paratênicos ou de transporte, para facilitar a infecção do hospedeiro definitivo, constitui uma excelente estratégia de sobrevivência desse nematódeo.
Angiostrongilíase Abdominal
Zoonose causada pelo nematódeo Angiostrongylus costaricensis, cujo ciclo natural envolve moluscos terrestres e principalmente roedores. O ciclo de vida é muito semelhante ao de A. cantonensis, porém sem hospedeiros paratênicos. Os helmintos adultos presentes nas artérias mesentéricas dos roedores, após acasalamento, eliminam ovos que ao chegarem à luz intestinal liberam larvas de primeiro estádio (L1), as quais são eliminadas nas fezes. Estas larvas ao penetrarem no molusco ou serem ingeridas por eles, num período de duas a três semanas, sofrem duas mudas e atingem o terceiro estádio (L3), infectante para o vertebrado.
Os roedores se infectam ao ingerirem moluscos infectados ou, no caso de herbívoros, vegetais contaminados com a larva L3. Uma vez ingeridas as larvas levam em torno de 30 dias para chegarem a helmintos adultos. Já a infecção humana é acidental, através da ingestão de moluscos parasitados presentes em hortaliças ou do muco contendo larvas L3 do nematódeo e liberado pelo molusco ao se movimentar. No homem o ciclo é considerado abortivo, pois ele não elimina as larvas L1 do parasito nas fezes, interrompendo o ciclo de vida do parasito.