Esporotricose

A esporotricose é uma infecção fúngica causada por fungos do gênero Sporothrix, que pode ter origem ambiental (sapronótica) ou animal (zoonótica – Sporothrix brasiliensis), apresentando-se com lesões cutâneas em humanos e animais.

 

Transmissão e manifestações clínicas

  • Transmissão sapronótica: Ocorre por contato do fungo com a pele ou mucosas por meio de ferimentos abertos, normalmente associados a traumas com material vegetal ou solo contaminado.
  • Transmissão zoonótica: A fonte principal de infecção é o gato doméstico (Felis catus). A transmissão para humanos ocorre principalmente por contato direto com as lesões, arranhaduras ou mordeduras de animais infectados. As lesões surgem como áreas avermelhadas no local do ferimento, podendo ulcerar e se disseminar para outras áreas da pele (lesões linfocutâneas).

Não há evidências de transmissão entre humanos.

A principal forma de contaminação do gato doméstico é através de brigas e traumas com outros gatos contaminados, além disso, o animal também poderá ser infectado através do ambiente contaminado. No animal a doença também apresenta nódulos e úlceras, na forma de lesão única ou múltiplas lesões ulceradas principalmente na região da cabeça, cauda e patas podendo progredir para o restante do corpo.

Cães raramente adoecem, mas pode acontecer pelo contato com gato doente, entretanto dificilmente transmitirá a doença ao homem e a outros animais.

 

Diagnóstico

  • Humano: O diagnóstico é feito por meio do reconhecimento da lesão por um médico e confirmado laboratorialmente pela identificação do fungo no material colhido na lesão ou confirmado a partir de critério clínico epidemiológico onde há um vínculo epidemiológico com o animal doente (Nota Técnica nº 06/2024). Importante ressaltar que, a carga fúngica em humanos, é baixa, podendo resultar em falso negativo em algumas análises laboratoriais. Além disso, como a esporotricose pode apresentar diferentes formas clínicas, é importante considerar vários diagnósticos diferenciais, que incluem outras micoses, infecções bacterianas e doenças não infecciosas, como ilustrado no quadro abaixo.
Quadro. Doenças infecciosas relacionadas ao diagnóstico diferencial para esporotricose humana

 

  • Animal: O diagnóstico segue protocolos laboratoriais ou clínico-epidemiológicos, conforme a Nota Técnica Conjunta nº 06/ 2023. Assim como em humanos, a carga fúngica em cães pode ser muito baixa, resultando em possíveis falsos negativos.

 

Tratamento

  • Humano: Para o tratamento da esporotricose humana, os esquemas terapêuticos estão descritos no Quadro 2, que inclui os medicamentos disponibilizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Já no Quadro 3, estão relacionados os medicamentos que não são oferecidos pelo SUS (Nota Técnica nº06/2024). Em estágios avançados da doença, com múltiplas e graves lesões a indicação deve ser avaliada criteriosamente pelo médico.
Posologia para tratamento da esporotricose em humanos, fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS)

 

Quadro 3: Posologia para tratamento da esporotricose em humanos de medicamentos que não estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS)

 

  • Animal: O animal deverá ser avaliado por um médico veterinário, em casos graves a doença pode levar o animal à morte. O medicamento amplamente utilizado é o Itraconazol (Gremião et al. 2020). O tratamento deve ser completo e sem interrupções, para que se alcance bons resultados, tanto no homem quanto nos animais.

 

Prevenção e controle

  • Manter os animais saudáveis sob responsabilidade do proprietário ou tutor e domiciliados, evitando o contato com outros animais contaminados e a transmissão da doença. Animais que já foram tratados e curados podem pegar a doença novamente;
  • Castrar gatos e gatas saudáveis para diminuir as saídas à rua e a possibilidade de transmissão da doença;

  • Utilizar Equipamentos de Proteção Individual (EPI) como luvas, óculos e outros ao manipular gatos doentes;

  • Gatos em tratamento devem ser mantidos em local seguro e isolado, o ambiente deverá ser limpo com água sanitária, no mínimo diariamente;

  • Durante todo o tratamento, o animal poderá transmitir a doença ao tutor;

  • Destinação final de carcaças: Conforme a Resolução Conjunta Sedest/SESA/IAT nº 11/2023, a destinação correta das carcaças de animais suspeitos ou confirmados de esporotricose é essencial para evitar a contaminação ambiental. O animal deve ser incinerado ou cremado. Enterrar, jogar em lixo comum ou em corpos d’água é proibido, pois o fungo sobrevive no solo, perpetuando o ciclo de contaminação.;

  • Pessoas que possuam gatos domésticos deverão levá-lo ao veterinário o mais rápido possível após notarem lesões de pele, principalmente nas patas, face e cabeça;

  • Nos casos de animais de vida livre/ de rua que apresentem sintomas relacionados com a doença, o cidadão ou profissional da saúde deverá informar a Vigilância em Saúde Municipal.

 

Situações de Acumulação de Animais

 

O acúmulo de animais em áreas urbanas representa um grave risco à saúde humana devido ao aumento significativo da disseminação da esporotricose. A proximidade entre os animais e as condições sanitárias inadequadas nesses ambientes favorecem a propagação do fungo, elevando o risco de transmissão para as pessoas que convivem nesses espaços. Segundo o Guia de ações para enfrentamento da esporotricose em situação de acumulação de animais, a concentração de animais potencializa a ocorrência de surtos, expondo os moradores e a comunidade à doença.

Nessas situações, é fundamental a atuação conjunta dos serviços de saúde, serviços ambientais e assistência social, para proteger a saúde pública. As medidas devem incluir a remoção dos animais, tratamento adequado dos infectados (animais e humanos) e o monitoramento contínuo, além de apoio social à pessoa em situação de acumulação, a fim de prevenir novos focos de infecção e garantir a segurança da população.

 

Panorama dos casos no Paraná

Desde a publicação da Resolução SESA nº 93/2022, que tornou a notificação da esporotricose obrigatória no estado do Paraná, tanto para humanos quanto para animais, o número de casos notificados tem aumentado de forma significativa, conforme pode ser observado no Informe  Epidemiológico abaixo. Esse aumento reflete tanto a maior conscientização e vigilância sobre a doença quanto a real expansão da esporotricose na população humana e felina. A notificação compulsória tem permitido uma resposta mais ágil e a adoção de medidas de controle epidemiológico, fundamentais para conter a disseminação da doença.

 
 Informe Epidemiológico Esporotricose

 

 
Esporotricose Humana
 
Esporotricose Felina

 

 

Características epidemiológicas

No Brasil, o primeiro caso reportado de esporotricose zoonótica (gato-humano) foi em 1955 (Rodrigues et al. 2020), a partir da década de 1990 houve uma explosão de casos felinos no município do Rio de Janeiro e desde os anos 2000 houve relatos no estado do Paraná (Rodrigues et al. 2022) (Figura 01). Já para a doença em humanos, até 2019, com exceção de Roraima, todos os estados brasileiros já apresentam casos de esporotricose humana (Rodrigues et al. 2020) (Figura 02).

 

Figura 01. Panorama da esporotricose felina no Brasil a partir dos anos 50 até 2022.

MAPA

Fonte: Rodrigues et al. 2022

Figura 02. Panorama dos casos de esporotricose humana e felina no Brasil em 2019.

MAPA 2

Fonte: Rodrigues et al. 2020

 

Perguntas Frequentes:

  1. Esporotricose humana e animal tem cura? Sim, a esporotricose tem tratamento e pode ser curada. Nos casos humanos recomenda-se para o tratamento seguir o Guia de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. Nos casos animais, é muito importante que o animal seja acompanhado por um veterinário durante todo o tratamento e quanto antes o animal for diagnosticado e tratado, menor é o risco de transmissão para outros animais e pessoas.
  2. É possível que um gato doente contamine outros animais e pessoas que convivem no mesmo ambiente, como uma casa, quintal ou apartamento? Sim. Por isso, é recomendado o isolamento em um ambiente próprio do gato doente, separando-o do contato com outros animais, para que receba os cuidados de que necessita sem comprometer a saúde dos tutores e outros animais da casa.
  3. O que fazer com o corpo de um animal que morreu com suspeita ou confirmação para esporotricose? O corpo deve ser cremado ou incinerado, conforme a Resolução Conjunta Sedest/SESA/IAT nº 11/2023. Enterrar, jogar no lixo ou em corpos d'água é proibido, pois o fungo pode sobreviver no ambiente, aumentando o risco de novas infecções.

 

INFORMAÇÕES IMPORTANTES:

No estado do Paraná, a esporotricose humana e animal é de interesse estadual e de notificação compulsória (Resolução SESA nº93/2022).

A ocorrência de zoonoses em animais deverá ser notificada imediatamente à autoridade sanitária. Portanto, sempre que houver indícios de animais com esporotricose a população em geral e as autoridades competentes deverão informar a Vigilância em Saúde do município para que seja adotada medidas de controle pertinentes. E todos os casos suspeitos e/ou confirmados de Esporotricose precisam ser notificados às Vigilâncias Municipais de Saúde.

 

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