Leptospirose

Leptospirose - CID10: A27

 

A leptospirose é uma doença infecciosa febril aguda que resulta da exposição direta ou indireta a urina de animais (principalmente ratos) infectados pela bactéria Leptospira; sua penetração ocorre através da pele com lesões, pele íntegra imersa por longos períodos em água ou lama contaminada, ou através de mucosas como boca, nariz e olhos.

O período de incubação, ou seja, tempo entre a infecção pela bactéria até o momento que a pessoa leva para manifestar os sintomas, pode variar de 1 a 30 dias e normalmente ocorre entre 7 a 14 dias após a exposição a situações de risco. As manifestações clínicas variam desde formas assintomáticas e subclínicas até quadros graves, associados a manifestações fulminantes. A evolução da doença foi dividida em duas fases: fase precoce e fase tardia.

A doença apresenta elevada incidência em determinadas áreas além do risco de letalidade, que pode chegar a 40% nos casos mais graves. Sua ocorrência está relacionada às condições precárias de infraestrutura sanitária e alta infestação de roedores infectados.

 

IMPORTANTE: As inundações propiciam a disseminação e a persistência da bactéria no ambiente, facilitando a ocorrência de surtos.

 


 

Quais os sintomas?

 

Principais manifestações da fase precoce:

  • Febre
  • Dor de cabeça
  • Dor muscular, principalmente nas panturrilhas
  • Falta de apetite
  • Náuseas/vômitos

 

Podem ocorrer diarreia, dor nas articulações, vermelhidão nos olhos, fotofobia, dor ocular, tosse; mais raramente podem manifestar exantema, aumento do fígado e/ou baço, aumento de linfonodos; hiperemia e edema das conjuntivas ao longo das pálpebras, podendo evoluir para hemorragias conjuntivais.

Em aproximadamente 10% a 15% dos casos ocorre a evolução para manifestações clínicas graves, que normalmente iniciam-se após a primeira semana de doença. Nas formas graves, a manifestação clássica da leptospirose é a síndrome de Weil, caracterizada pela tríade de icterícia (tonalidade alaranjada muito intensa - icterícia rubínica), insuficiência renal e hemorragia, mais comumente pulmonar. Pode haver necessidade de internação hospitalar.

 

Principais manifestações na fase tardia:

  • Síndrome de Weil - tríade de icterícia, insuficiência renal e hemorragias
  • Síndrome de hemorragia pulmonar - lesão pulmonar aguda e sangramento maciço
  • Comprometimento pulmonar - tosse seca, dispneia, expectoração hemoptoica
  • Síndrome da angustia respiratória aguda – SARA
  • Manifestações hemorrágicas – pulmonar, pele, mucosas, órgãos e sistema nervoso central

 

Os casos com comprometimento pulmonar podem evoluir para insuficiência respiratória aguda, hemorragia maciça ou síndrome de angustia respiratória do adulto e, muitas vezes, esse quadro precede o quadro de icterícia e insuficiência renal. Nesses casos, pode ocorrer óbito nas primeiras 24 horas de internação.

 


 

Quais as complicações?

 

  • Insuficiência renal aguda - não oligúrica e hipocalêmica
  • Insuficiência renal oligúrica por azotemia pré-renal
  • Necrose tubular aguda
  • Miocardite - acompanhada ou não de choque e arritmias por distúrbios eletrolíticos
  • Pancreatite
  • Anemia
  • Distúrbios neurológicos (confusão, delírio, alucinações)

 

A leptospirose é uma causa relativamente frequente de meningite asséptica. Raramente ocorrem: encefalite, paralisias focais, espasticidade, nistagmo, convulsões, distúrbios visuais de origem central, neurite periférica, paralisia de nervos cranianos, radiculite, síndrome de Guillain-Barré e mielite.

 


 

Como é feito o diagnóstico?

 

Suspeita clinica de Leptospirose - Definições de caso suspeito

 

Indivíduo com febre, cefaléia e mialgia, que apresente pelo menos um dos seguintes critérios:

  1. Antecedentes epidemiológicos sugestivos nos 30 dias anteriores à data de início dos sintomas
  • Exposição a enchentes, alagamentos, lama ou coleções hídricas;
  •  Exposição a esgoto, fossas, lixo e entulho;
  • Atividades que envolvam risco ocupacional como coleta de lixo a material para reciclagem, limpeza de córregos, trabalho em água ou esgoto, manejo de animais, agricultura em áreas alagadas;
  • Vínculo epidemiológico com um caso confirmado por critério laboratorial;
  • Residir ou trabalhar em áreas de risco para leptospirose, conforme determinação da vigilância epidemiológica local.

       2. Apresentar pelo menos 01 dos seguintes sinais e sintomas:

  • Sufusão conjuntival;
  • Sinais de insuficiência renal aguda (incluindo alterações do volume urinário);
  • Icterícia e/ou aumento de bilirrubinas;
  • Fenômeno hemorrágico.

 

Diagnóstico laboratorial

Exames específicos

O método laboratorial de escolha depende da fase evolutiva em que se encontra o paciente.

 

Fase precoce, 1 a 5 dias do início dos sintomas

  • Exame direto por histopatologia e Imuno-histoquímica, apenas post-mortem
  • Detecção do DNA pela reação em cadeia da polimerase (PCR) 

 

Fase tardia, a partir do 7º dia do início dos sintomas

  • ELISA-IgM
  • Microaglutinação (MAT)

 

Sempre que possível realizar duas coletas para sorologia IgM, 1 amostra no primeiro atendimento médico e 1 amostra a partir do 7º dia do início dos sintomas.

Os exames mais utilizados nas rotinas de vigilância são o PCR e sorologia IgM pelo método Elisa.

Esses exames devem ser realizados pelos Lacens em parceria com a Fiocruz, ambos laboratórios pertencentes à Rede Nacional de Laboratórios de Saúde Pública.

Para maiores informações consultar o Manual de Coleta e Envio de Amostras Biológicas ao Lacen/PR.

 

Exames inespecíficos

  • Hemograma
  • Bioquímica (ureia, creatinina, bilirrubina total e frações, TGO, TGP, gama-GT, fosfatase alcalina e CPK, Na+ e K+)
  • Radiografia de tórax
  • Eletrocardiograma (ECG)
  • Gasometria arterial

 

 Diagnóstico diferencial

 

Considerando-se que a leptospirose tem um amplo espectro clínico, os principais diagnósticos diferenciais são:

Fase precoce – dengue, influenza (síndrome gripal), malária, riquetsioses, doença de Chagas aguda, toxoplasmose, febre tifóide, covid-19, entre outras doenças.

Fase tardia – hepatites virais agudas, hantavirose, febre amarela, malária grave, dengue hemorrágica, febre tifóide, endocardite, riquetsioses, doença de Chagas aguda, pneumonias, pielonefrite aguda, apendicite aguda, sepse, meningites, colangite, colecistite aguda, coledocolitíase, esteatose aguda da gravidez, síndrome hepatorrenal, síndrome hemolíticourêmica, outras vasculites, incluindo lúpus eritematoso sistêmico, dentre outras.

 


 

Como é feito o tratamento?

 

Para os casos leves, o atendimento é ambulatorial, mas, nos casos graves, a hospitalização deve ser imediata, visando evitar complicações e diminuir a letalidade.

A automedicação não é indicada. Ao suspeitar da doença, a recomendação é procurar um serviço de saúde e relatar o contato com exposição de risco.

A antibioticoterapia está indicada em qualquer período da doença, mas sua eficácia costuma ser maior na 1ª semana do início dos sintomas. Na fase precoce, são utilizados Doxiciclina ou Amoxicilina; para a fase tardia, Penicilina cristalina, Penicilina G cristalina, Ampicilina, Ceftriaxona ou Cefotaxima.

As medidas terapêuticas de suporte devem ser iniciadas precocemente com o objetivo de evitar complicações, principalmente as renais, e óbito.

Importante: o tratamento com antibioticoterapia dever ser iniciado na suspeita clínica, sem necessidade de confirmação laboratorial.

 

Informações mais detalhadas sobre a doença podem ser obtidas no Manual do Ministério da Saúde Diagnóstico e Manejo Clínico da Leptospirose.


 

Como prevenir?

 

A prevenção da Leptospirose ocorre por meio de medidas como:

  • Obras de saneamento básico (drenagem de águas paradas suspeitas de contaminação, rede de coleta e abastecimento de água, construção e manutenção de galerias de esgoto e águas pluviais, coleta e tratamento de lixo e esgotos, desassoreamento, limpeza e canalização de córregos), melhorias nas habitações humanas e o controle de roedores.
  • Evitar o contato com água ou lama de enchentes e impedir que crianças nadem ou brinquem nessas águas. Pessoas que trabalham na limpeza de lama, entulhos e desentupimento de esgoto devem usar botas e luvas de borracha (ou sacos plásticos duplos amarrados nas mãos e nos pés).
  • A água sanitária (hipoclorito de sódio a 2,5%) mata as leptospiras e deve ser utilizada para desinfetar reservatórios de água: um litro de água sanitária para cada 1.000 litros de água do reservatório. Para limpeza e desinfecção de locais e objetos que entraram em contato com água ou lama contaminada, a orientação é diluir 2 xícaras de chá (400ml) de água sanitária para um balde de 20 litros de água, deixando agir por 15 minutos.

Controle de roedores - acondicionamento e destino adequado do lixo, armazenamento apropriado de alimentos, desinfecção e vedação de caixas d´água, vedação de frestas e aberturas em portas e paredes, etc. O uso de raticidas (desratização) deve ser feito por técnicos devidamente capacitados.

 


Alerta para as equipes de vigilância epidemiológica e atenção em saúde em situações emergenciais

 

Em todos os anos, nos meses de primavera e verão, uma das principais ocorrências epidemiológicas após as enchentes e inundações é o aumento do número de casos de leptospirose. Diante disso, visando alertar as vigilâncias epidemiológicas das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, sobre condutas em situações de desastres naturais, conforme Nota técnica nº138/2022, a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS) informa:

Em situações de desastres naturais como enchentes e inundações, os indivíduos ou grupos de pessoas que entraram em contato com lama ou água, por elas contaminadas, podem se infectar e manifestar sintomas da doença.

Nessas situações as seguintes recomendações devem ser adotadas:

  • Divulgar informes sobre o risco de leptospirose para a população exposta à enchente;
  • Divulgar informes sobre a necessidade de avaliação médica para todo indivíduo exposto a enchente que apresente febre, mialgia, cefaleia ou outros sintomas clínicos no período de até 30 dias após contato com lama ou águas de enchente;
  • Divulgar informes sobre medidas potenciais para evitar novas ou continuadas exposições a situações de risco de infecção;
  • Alertar os profissionais de saúde sobre a possibilidade de ocorrência da doença na localidade de forma a aumentar a capacidade diagnóstica;
  • Manter vigilância ativa para identificação oportuna de casos suspeitos de leptospirose, tendo em vista que o período de incubação da doença pode ser de 1 a 30 dias (média de 5 a 14 dias após exposição);
  • Notificar todo caso suspeito da doença, para o desencadeamento de ações de prevenção e controle;
  • Realizar tratamento oportuno de todo caso suspeito.

Nestas situações de desastres naturais como enchentes, a orientação para profissionais de saúde, militares e de defesa civil que se expuserem ou irão se expor a situações de risco, durante operações de resgate, é utilizar Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e ampliar o grau de alerta sobre o risco da doença entre os expostos, de forma a permitir o diagnóstico e tratamento oportunos de pacientes.

Para consulta ao alerta da Sesa/PR para o aumento de casos em período chuvosos, direcionado à população e aos serviços de saúde municipais, acessar:

 https://www.documentador.pr.gov.br/documentador/pub.do?action=d&uuid=@gtf-escriba-sesa@096041fb-0e72-4461-b0ce-475e081fd34d

 

Ações de prevenção em situações emergenciais

Vacinação

Não existe uma vacina para uso humano contra a leptospirose no Brasil.

A vacinação de animais domésticos e de produção (cães, bovinos e suínos) evita o adoecimento e transmissão da doença por aqueles sorovares que a vacina protege. Está disponível em serviços particulares, sendo responsabilidade do proprietário vacinar o animal, e sendo válida como estratégia de proteção individual.

Qualquer indivíduo que entrou em contato com água ou lama de enchente está suscetível à infecção e pode manifestar sintomas da doença.

Em áreas com ocorrência de enchentes e alagamentos, recomenda-se às redes de Atenção Primária, Hospitalar, Domiciliar e de Urgência e Rede Nacional de Vigilância Hospitalar (Renaveh):

  • Divulgar ações de proteção entre a população vulnerável;
  • Manter vigilância ativa para identificação oportuna de casos suspeitos de leptospirose; tendo em vista que o período de incubação da doença pode ser de 1 a 30 dias (média de 5 a 14 após a exposição);
  • Notificar imediatamente todo caso suspeito da doença, conforme a Portaria do MS de consolidação Nº 4 de 03 de outubro de 2017;
  • Realizar a investigação epidemiológica e ambiental dos casos, conforme ficha Sinan e Roteiro de Investigação de casos suspeitos da Sesa/PR;
  • Fazer busca ativa de casos suspeitos em locais prováveis de infecção (LPI) e serviços de saúde locais;
  • Realizar tratamento oportuno dos casos suspeitos.

A quimioprofilaxia para leptospirose como rotina não é indicada pelo Ministério da saúde, ficando a cargo das secretarias estaduais e municipais a sua indicação, restrita a situações emergenciais de desastres naturais e conforme orientações técnicas específicas. 

 


Viajantes e a Leptospirose

 

Deve-se evitar ambientes que possam estar contaminados por urina de ratos e outros animais, bem como entrar em contato com água ou lama de enchentes ou rios e lagos suspeitos. Sugere-se procurar informações sobre a ocorrência de leptospirose na região que vai visitar. Se adoecer no retorno, não esquecer de relatar sua viagem e as prováveis situações de risco pelas quais passou durante a viagem (enchentes, acampamentos, rios e lagos).

 

Para acesso ao material educativo (folder) sobre Leptospirose da Sesa/PR consultar:

https://www.documentador.pr.gov.br/documentador/pub.do?action=d&uuid=@gtf-escriba-sesa@253512bb-3dc4-4b00-8fd4-ec2b9e9dceff

 


FONTE: SESA E MINISTÉRIO DA SAÚDE