Hantavirose

Hantaviroses - CID10: A98.5

Aspectos Clínicos e Epidemiológicos

A Hantavirose é uma zoonose viral aguda, cuja infecção em humanos, no Brasil, se apresentam na forma da Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus. Na América do Sul, foi observado importante comprometimento cardíaco, passando a ser denominada de Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus (SCPH). Os hantavírus possuem como reservatórios naturais alguns roedores silvestres, que podem eliminar o vírus pela urina, saliva e fezes. Os roedores podem carregar o vírus por toda a vida sem adoecer. A hantavirose é causada por um vírus RNA, pertencente à família Bunyaviridae, gênero Hantavirus.

 

 

IMPORTANTE: Nas Américas, a hantavirose se manifesta sob diferentes formas, desde doença febril aguda inespecífica, até quadros pulmonares e cardiovasculares mais severos e característicos, podendo evoluir para a síndrome da angústia respiratória (SARA).

 


 

Quais são os sintomas?

 

Fase inicial, a Hantavirose causa os seguintes sintomas:

  • febre;
  • dor nas articulações;
  • dor de cabeça;
  • dor lombar;
  • dor abdominal;
  • sintomas gastrointestinais.

Fase cardiopulmonar, os sintomas da hantavirose são:

  • febre;
  • dificuldade de respirar;
  • respiração acelerada;
  • aceleração dos batimentos cardíacos;
  • tosse seca;
  • “pressão baixa”.

 

 

ATENÇÃO: Nessa fase, também é possível surgir edema pulmonar não cardiogênico, com o paciente evoluindo para insuficiência respiratória aguda e choque circulatório.

 


 

Como é transmitida?

 

A infecção humana por hantavirose ocorre mais frequentemente pela inalação de aerossóis, formados a partir da urina, fezes e saliva de roedores infectados. As outras formas de transmissão, para a espécie humana, são:

  • percutânea, por meio de escoriações cutâneas ou mordedura de roedores;
  • contato do vírus com mucosa (conjuntival, da boca ou do nariz), por meio de mãos contaminadas com excretas de roedores;
  • transmissão pessoa a pessoa, relatada, de forma esporádica, na Argentina e Chile, sempre associada ao hantavírus Andes.

O período de transmissibilidade do hantavírus no homem é desconhecido. Estudos sugerem que o período de maior viremia seria alguns dias que antecedem o aparecimento dos sinais/sintomas. Já o período de incubação do vírus, ou seja, o período que os primeiros sintomas começam a aparecer a partir da infecção, é, em média, de 1 a 5 semanas, com variação de 3 a 60 dias.

 

Fatores ambientais

Diversos fatores ambientais estão associados com o aumento no registro de casos de hantavirose, e estão ligados ao aumento da população de roedores silvestres como, o desmatamento desordenado, a expansão das cidades para áreas rurais e as áreas de grande plantio, favorecendo a interação entre homense roedores silvestres.

 


 

Como é feito o diagnóstico?

 

Atualmente, os exames laboratoriais para diagnóstico específico da hantavirose são realizados em laboratórios de referência. Os exames estão disponíveis na rede pública de laboratórios para confirmação ou descarte dos casos.

O diagnóstico é feito, basicamente, por meio da sorologia. O Ministério da Saúde disponibiliza os kits necessários para testes sorológicos. 

ELISA-IgM –cerca de 95% dos pacientes com SCPH têm IgM detectável em amostra de soro coletada no início dos sintomas, sendo, portanto, método efetivo para o diagnóstico de hantanvirose.Imunohistoquímica – técnica que identifica antígenos específicos para hantavírus em fragmentos de órgãos. Particularmente utilizada para o diagnóstico nos casos de óbitos, quando não foi possível a realização do diagnóstico sorológico in vivo.

RT-PCR –método de diagnóstico molecular, útil para identificar o vírus e seu genótipo, sendo considerado exame complementar para fins de pesquisa. Observe-se que quando o óbito é recente possibilita a realização de exame sorológico (ELISA IgM), mediante coleta de sangue do coração ou mesmo da veia.

A coleta de amostra deve ser feita logo após a suspeita do diagnóstico, pois o aparecimento de anticorpos da classe IgM ocorre concomitante ao início dos sintomas e permanecem na circulação até cerca de 60 dias, após o início dos sintomas. Quando em amostra única não for possível definir o diagnóstico, deve-se repetir a coleta e realizar uma segunda sorologia somente nas situações em que o paciente apresentar manifestações clínicas fortemente compatíveis com a SCPH e se a primeira amostra foi coletada nos primeiros dias da doença.

A técnica ELISA-IgG, ainda que disponível na rede pública, é utilizada apenas em estudos epidemiológicos, para detectar infecção viral anterior, em roedores ou em seres humanos.

 

Diagnóstico diferencial

Se necessário, são feitos exames para diagnóstico diferencial, uma vez que alguns sintomas se confundem com o de outras doenças, como septicemia, leptospirose, virose respiratória, pneumonia atípica, dengue e febre hemorrágica de etiologia viral.

  • Doenças de origem infecciosa – Leptospirose, influenza e parainfluenza, dengue, febre amarela e febre do Valle Rift, doenças por vírus Coxsackies, Adenovirus e Arenavirus (febre de Lassa), triquinelose, malária, pneumonias (virais, bacterianas, fúngicas e atípicas), septicemias, rickettsioses, histoplasmose, pneumocistose. 
  • Doenças não infecciosas – abdômen agudo de etiologia variada, síndrome da angústia respiratória (SARA), edema agudo de pulmão (cardiogênico), pneumonia intersticial por colagenopatias (lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide); doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).

Leptospirose, influenza e parainfluenza, dengue, febre amarela e febre do Valle Rift, doenças por vírus Coxsackies, Adenovirus e Arenavirus (febre de Lassa), triquinelose, malária, pneumonias (virais, bacterianas, fúngicas e atípicas), septicemias, rickettsioses, histoplasmose, pneumocistose. abdômen agudo de etiologia variada, síndrome da angústia respiratória (SARA), edema agudo de pulmão (cardiogênico), pneumonia intersticial por colagenopatias (lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide); doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).

 


 

Como é feito o tratamento?

 

Não existe um tratamento específico para as infecções por hantavírus. As medidas terapêuticas são fundamentalmente as de suporte, ministradas conforme cada caso por um médico profissional.

Por tratar-se de uma doença aguda e de rápida evolução, a hantavirose / hantavírus (síndrome cardiopulmonar por hantavírus), é de notificação compulsória imediata, devendo portanto, ser notificada em até 24h tanto para as Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde, quanto para o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS).

Como a hantavirose é uma doença com transmissão respiratória, profissionais que possam estar expostos, como principalmente trabalhadores rurais, assim como profissionais de saúde que irão realizar investigação à procura do local provável de infecção, devem utilizar os seguintes equipamentos de proteção individual:

  • Máscara pff3.
  • Luva.
  • Avental.
  • Óculos de proteção.

Todo profissional potencialmente exposto ao risco deve ser orientado sobre as formas de transmissão, os períodos de incubação e sinais/sintomas da doença. Quando possível, deve-se, previamente, determinar o nível de risco para cada atividade profissional e identificar as respectivas medidas de prevenção.

 

ATENÇÃO: Trabalhadores que apresentem febre ou qualquer doença respiratória em um período de até 60 dias após uma possível exposição ou situação de risco devem buscar, imediatamente, assistência médica e relatar ao profissional de saúde a sua história epidemiológica.

 


 

Transporte do paciente

 

Dada a evolução rápida e progressiva do quadro prodrômico para insuficiência respiratória grave e, até mesmo, choque circulatório, para evitar óbito, o paciente com hantavirose deve ser transportado acompanhado de médico habilitado e em condições que assegurem: 

  • estabilidade hemodinâmica;              
  • parâmetros ventilatórios adequados, com oxigenioterapia e suporte ventilatório mecânico, se necessários;        
  • acesso venoso, sem administração excessiva de líquidos;                
  • controle cardiovascular com uso de aminas vasoativas em doses adequadas;          
  • normas de biossegurança;      
  • mobilização apenas quando necessária e sem desgaste físico do paciente.

 


 

Como prevenir?

 

A prevenção das hantavirose baseia-se na utilização de medidas que impeçam o contato do homem com os roedores silvestres e suas excretas (resíduos eliminados do organismo).

As medidas de controle devem conter ações que impeçam a aproximação dos roedores, como, por exemplo, roçar o terreno em volta da casa, dar destino adequado aos entulhos existentes, manter alimentos estocados em recipientes fechados e à prova de roedores, além de outras medidas que impeçam a interação entre o homem e roedores silvestres, nos locais onde é conhecida a presença desses animais.

 


 

Características Epidemiológicas

 

No Brasil, a doença tem sido diagnosticada de forma esporádica, sendo que os três primeiros casos (1993) da síndrome pulmonar por hantavírus (SPH) foram identificados em São Paulo, município de Juquitiba. Desde então, acumulou-se um total de 350 casos (até abril de 2004), distribuídos nas cinco regiões geográficas do país, sendo as regiões Sul e Sudeste as que mais contribuem com notificações. A forma respiratória da doença (SPH) é a mais grave e tem grande letalidade, ocorre em 22 estados da região sudoeste dos Estados Unidos, onde tem sido isolados novos vírus. A febre hemorrágica com síndrome renal (FHSR) tem a distribuição na Europa e Ásia (na China, ocorrem de 40.000 a 100.000 casos por ano). Na Coreia do Sul, tem ocorrido uma média de 1.000 casos por ano. Possui letalidade variável, em torno de 5%, na Ásia, e um pouco maior nas Ilhas Bálcãs.

 


 
 
Vigilância Epidemiológica
 
Objetivo

Manter um sistema sentinela que permita identificar os casos e conhecer os fatores de risco associados à doença, a fim de direcionar ações adequadas de controle; realizar investigação epidemiológica de todos os casos suspeitos. 

 
Notificação

Trata-se de doença emergente e qualquer caso suspeito é de notificação compulsória imediata para desencadeamento de medidas de controle, investigação e tratamento adequado. 

 
Definição de caso
  • Suspeito - paciente previamente sadio com histórico de síndrome gripal: febre acima de 38°C, mialgias, calafrios, grande astenia, sede e cefaleia, acompanhadas de sintomas e sinais de insuficiência respiratória aguda de etiologia não determinada ou edema pulmonar não cardiogênico, na primeira semana da doença. Na fase cardiopulmonar, os dados clínicos associados a achados laboratoriais, como leucocitose com desvio à esquerda, trombocitopenia, hematócrito elevado, infiltrados pulmonares intersticiais e aumento de desidrogenase láctica (DHL), podem levar à suspeita de SPH; 
  • Confirmado - paciente com as características clínicas do suspeito e exame de laboratório específico para confirmação por ELISA (IgM em soro ou soroconversão por IgG), PCR ou imunohistoquímica positivo. 
 
Medidas de controle

Investigação epidemiológica - deverá ser realizada de forma clara e objetiva, incluindo o preenchimento de uma ficha epidemiológica para cada caso suspeito, devendo compreender os seguintes aspectos: investigação clínica e/ou laboratorial de todos os casos, para confirmação diagnóstica; determinação da provável forma e local de contágio, sendo importante pesquisar os fatores de risco e o provável reservatório do vírus; condições propícias à proliferação de roedores nos locais de trabalho ou moradia e as atividades em áreas potencialmente contaminadas. Deverá ser feito o mapeamento de todos os casos para se precisar a distribuição espacial e geográfica da doença (onde está ocorrendo), determinando-se, assim, as áreas onde se procederão às ações de controle. 

  • Controle de roedores - eliminação de todos os resíduos que possam servir de fonte de alimento e de abrigo, evitar entulhos, armazenar insumos e produtos agrícolas longe das residências e em galpões elevados de 30 a 34 cm do solo; quando armazenados em casa, devem ser guardados em recipientes fechados; além disso, vedar fendas das residências e manter coleta e disposição de lixo adequadas, e o plantio distante 30 metros das residências; Controle químico Só indicado em ambiente urbano, em áreas de alta infestação por roedores; 
  • Precauções com roedores silvestres e de laboratórios - como no momento não se sabe quais os roedores potenciais transmissores, recomenda-se que todos devam ser considerados potencialmente contaminados, e por isso devem ser manejados observando as normas de biossegurança específicas. Desinfecção de ambientes potencialmente contaminados: usar desinfetantes como o hipoclorito de sódio a 0,3%, (aproximadamente 1 medida de água sanitária comercial, ou alvejante comercial, diluída em 9 medidas de água). Em habitações fechadas, deve-se ventilá-las por 30 minutos, antes da entrada, que deve se dar com proteção respiratória (máscaras ou equipamentos de pressão positiva). Realizar a limpeza do piso e móveis com um pano umedecido em detergente ou desinfetante, que evitará a formação de aerossóis. Alimentos e outros materiais contaminados devem ser enterrados em bolsa plástica dupla, previamente molhados com detergentes. Só manipular roedores mortos, objetos ou alimentos contaminados, com luvas de borracha. Esses deverão ser eliminados em bolsa plástica, como recomendado para os alimentos. Todos os operadores que atuam na limpeza dos locais afetados devem ser devidamente treinados para desenvolver suas atividades de maneira segura. 

 

 
Hospedeiros primários
Tabela hospedeiros hantavirose
 
Ecoepidemiologia

Os casos de síndrome pulmonar por hantavírus (SPH) notificados nas Américas estão invariavelmente associados ao contato com ambientes contaminados por excretas de roedores. Esses roedores, da subfamília Sigmodontinae, são animais de hábitos silvestres que, em determinados contextos ecológicos, podem se aproximar do ambiente peridomiciliar, em áreas rurais, facilitando a transmissão da virose para humanos. 

Como exemplo, temos a epidemia ocorrida em 1993 na região sudoeste dos EUA. Nesse episódio, a população do roedor silvestre Peromyscus maniculatus foi grandemente aumentada em decorrência de alterações climáticas (excesso de chuvas), que propiciaram uma maior oferta de alimentos. É um fato já conhecido que cada tipo de vírus do gênero Hantaan (Seoul, Puumala, Prospect Hill, Sin Nombre...) está associado à uma determinada espécie de roedor, a qual se constitui em seu reservatório. 

Como se sabe, o papel de reservatório implica em uma relação de dependência entre um determinado agente etiológico e uma espécie hospedeira, ou seja, a ausência da espécie reservatório impede a sobrevivência do agente em um ecossistema. No caso das hantaviroses, os roedores e sua dinâmica populacional são fundamentais para o entendimento dos seus aspectos epidemiológicos básicos. O estudo dos 22 casos (confirmados por critério clínico-epidemiológico e laboratorial ), já identificados nas 2ª, 5ª, 6ª e 7ª Regionais de Saúde do Paraná, confirmam os fatores de risco descritos anteriormente. Todos os casos analisados tiveram exposição à excretas de roedores em atividades profissionais, ou no ambiente peridomiciliar em área rural. As características ecológicas e socioeconômicas da região centrosul paranaense são favoráveis à transmissão da doença, pois, sua economia é baseada em atividades agrárias desenvolvidas em propriedades rurais. É importante notar que a ocorrência da doença não deve ser recente na área, não sendo anteriormente diagnosticada pelo não conhecimento dos aspectos clínicos e epidemiológicos da doença por parte dos profissionais de saúde. 
Dentre os casos já estudados chama a atenção a associação observada com a atividade madeireira em áreas de reflorestamento, de Pinus sp. 

Os trabalhadores envolvidos nessa atividade vivem longos períodos de tempo em acampamentos precários. Nessas condições, estocam seus alimentos dentro dos abrigos sem as necessárias medidas de proteção, facilitando o acesso dos roedores. Estes, contaminam o ambiente com fezes e urina, determinando assim as condições propícias para a transmissão da doença. Também utilizam animais de tração nas atividades do corte da madeira. Esses animais são alimentados basicamente com milho que é estocado dentro das barracas, ao lado do alimento para consumo humano atraindo roedores. Hipoteticamente, a hantavirose no Paraná, parece estar associada aos seguintes fatores: 

Há mais ou menos vinte anos atrás iniciou-se na região, o plantio de Pinus sp, com incentivo governamental; 

Esse tipo de exploração teve seu corte intensificado há mais ou menos 2 a 3 anos atrás, uma vez o ponto ideal de corte das árvores é atingido entre 20 a 30 anos após o plantio; 

Concomitantemente, nestes últimos três anos, os preços internacionais da madeira atingiram valores que estimulam a indústria madeireira; 

Um terceiro fator foi o aparecimento da vespa da madeira (Sirex noctilio), identificada na região também nestes últimos dois anos determinando o imediato corte das árvores nas áreas afetadas como medida preventiva para a expansão do parasita. 

Esses três fatores, conjuntamente determinaram o aumento do numero de pessoas expostas ao risco de contrair a doença; ou seja os trabalhadores da indústria madeireira que passaram a invadir um habitat que, por mais de 20 anos esteve praticamente intocado.

Com isso, o ambiente sofreu grandes mudanças em sua ecologia. Os roedores, provavelmente as espécies de mamíferos melhor adaptadas às florestas de Pinus tiveram que buscar novos abrigos e alimentação. 

Os acampamentos dos trabalhadores, rusticamente construídos, situados muito próximos à essas florestas, representam excelente abrigo e refúgio para estes animais que ali encontram abrigo e alimentos. Nesta situação aumenta o risco de infecção pelo maior contato com os roedores e suas excreções. 

Em última análise, o desequilíbrio ecológico no ecossistema artificial provocado pela atividade econômica possibilitou o encontro do ser humano com os roedores e, consequentemente, o incremento de casos de hantavirose. 

A substituição da mata natural por espécies vegetais exóticas, implica em profundas alterações ambientais, eliminando ou diminuindo, entre outras consequências, as populações das diversas espécies animais e entre elas muitos dos predadores naturais de roedores, como ofídios e aves de rapina. Nessas condições, apenas as espécies mais adaptáveis conseguem sobreviver.

Os roedores são animais conhecidos por sua grande capacidade de adaptação aos mais diversos ambientes, sendo os mais numerosos e amplamente distribuídos entre os mamíferos. Possivelmente, esses e outros aspectos estejam influenciando na sobrevivência de várias espécies de roedores nessas áreas e influindo, portanto, no risco de transmissão da doença.

 
Protocolo de procedimentos médicos
 
Importância

A implantação da Vigilância Epidemiológica da Síndrome Pulmonar por Hantavírus (SPH) tem se mostrado cada vez mais necessária para melhor conhecimento do seu comportamento e introdução de medidas de prevenção.
Esta vigilância deverá ser capaz de proporcionar informações adequadas, em tempo hábil e na forma correta, para que se efetuem ações de controle. Principalmente deve antecipar-se na ocorrência de processos patológicos comuns à síndrome, detectando o caso em seu início, evitando as formas graves e, consequentemente, óbitos. Em um período de tempo maior, o seguimento e a análise da tendência e ocorrência da síndrome é de muita importância para detectar qualquer eventual mudança epidemiológica, que necessite uma intervenção imediata.

 
Identificação de casos

Caso suspeito - paciente com antecedentes epidemiológicos, geralmente acima de 10 anos de idade, que apresenta febre e mialgias em grandes grupos musculares:

  • 1) Se o quadro for severo: realizar hemograma com contagem de plaquetas. Se resultar: hematócrito igual ou acima de 50, ou - Contagem de plaquetas abaixo de 150.000, ou presença de linfócitos atípicos:considerar o caso como suspeito e internar em UTI com muita urgência.
  • 2) Se o quadro for moderado ou leve: medir a frequência respiratória e a saturação de oxigênio:
    • Se a frequência respiratória estiver menor do que 24 movimentos respiratórios por minuto, ou se o nível de saturação de oxigênio estiver maior do que 90%, considerar o caso como não suspeito.Todavia, nova avaliação deve ser feita em 24 horas.
    • Se a frequência respiratória estiver acima de 24 movimentos respiratórios por minuto, ou o nível de saturação de oxigênio estiver menor do que 90%, fazer Rx de tórax:
      • Se a imagem apresentar padrão lobar, considerar o caso como não suspeito.
      • Se a imagem apresentar infiltração intersticial, bilateral, considerar o caso como suspeito e internar em UTI urgentemente.
      • Ainda, solicitar hemograma com contagem de plaquetas, e considerar o indicado no item número 1.

Critérios de exclusão: pacientes com doença pulmonar severa prévia, imunodeficiência adquirida ou congênita, que faça uso de terapia imunossupresssora ou doença que explique o quadro pulmonar atual (traumatismo torácico, história prévia de aspiração, pneumonite tóxica).

Confirmação de caso: casos que se enquadrem nas definições acima deverão ser confirmados, junto ao quadro epidemiológico e prova laboratorial positiva. Deve ser colhido sorologia para exame específico ELISA ( IgM em soro ou soro conversão por IgG) e/ou histoquímica de órgãos e encaminhado ao LACEN, que enviará ao Laboratório de Referência Macrorregional. As amostras devem ser enviadas conforme normas do Instituto Adolfo Lutz em São Paulo, em anexo.
Em caso de óbito, proceder a necropsia , observando o aspecto macroscópico do pulmão conforme descrito no anexo.

 
Notificação de casos suspeitos

Casos suspeitos deverão ser notificados imediatamente ao Centro de Saúde Ambiental, na Secretaria Estadual da Saúde – Divisão de Zoonoses, por Telefone ou Fax (41-333-3425/333-4132)Deverá ser preenchida a Ficha Individual de Notificação, já existente no Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Nº A985) e posteriormente a ficha de Investigação de Hantavírus, que poderá ser solicitada ao Centro de Saúde Ambiental.

 
Fluxo da notificação
  • Unidade de saúde local
  • Notificação e envio da amostra
  • Vigilância Epidemiológica do município
  • Notificação e envio da amostra
  • Vigilância Epidemiológica da Regional
  • Envio da amostra notificação
  • Lacen
  • Centro de Saúde Ambiental (Sesa) – Div. Zoonoses
  • Envio da amostra Notificação
  • Laboratório de referência macrorregional
  • Instituto Adolfo Lutz - Cenepi – Coordenação Nacional de Controle de Zoonoses e Sorologia Positiva Animais Peçonhentos 

 

 
Ações de vigilância
  • Na presença de casos suspeitos, deve-se proceder a visita domiciliar, para observar a existência de comunicantes (pessoas que coabitam/utilizam o mesmo espaço) e se estes apresentam sintomatologia. Colher sorologia apenas dos comunicantes com sintomatologia sugestiva de SPH. Em caso de confirmação, deverá ser colhida sorologia de todos os comunicantes.
  • Observar as condições de habitação, a presença ou não de roedores no domicílio e peridomicílio, atividades de lavoura, presença de mata em torno da residência e acondicionamento da colhe
 
Medidas de controle

Em relação à fonte de infecção:

  • Diminuir a entrada de roedores no domicílio, através das seguintes medidas
    • Guardar a comida, inclusive ração de animais, em recipientes fechados
    • Acondicionar o lixo em recipientes com tampa
    • Não deixar restos de comida espalhados pela casa
    • Lavar as louças e utensílios de cozinha logo após o uso
    • Não deixar acumular entulho ou lixo ao redor da casa
    • Cortar o mato em torno da casa
    • Colocar a comida dos animais domésticos fora da casa, e não deixar restos no utensílio
    • Cobrir todas as aberturas da casa com diâmetro acima de 1,5 cm

Em relação ao modo de transmissão:

  • No domicílio onde ocorreram casos:
    • Lavar o chão com água, detergente ou desinfetante (sem varrer anteriormente). Para este procedimento, deve-se ventilar o ambiente, utilizar luvas e máscaras de proteção.
    • Trabalhadores de locais de risco, devem ser informados dos sintomas e prevenção da doença.
 
 Vigilância do óbito no Paraná

 

 
Histórico da doença no Paraná

Em 1998, a hantavirose apareceu no Paraná no município de Bituruna, pertencente a 6ª Regional de Saúde de União da Vitória. No mês de setembro de 1998, dois pacientes, marido e mulher, adoeceram e faleceram ao mesmo tempo, com quadro de insuficiência respiratória aguda.
Tal fato chamou a atenção dos profissionais da 6ª Regional de Saúde, levando-os a pensar em hantavírus. Todavia, como ambos os pacientes já haviam falecido quando a notificação foi realizada, não foi possível a coleta de amostras e conseqüente confirmação laboratorial. Por isso, foram considerados “suspeitos” de hantavirose. A partir desses dois casos, todo paciente com quadro clínico similar passou por uma investigação mais profunda, tentando caracteriza-la. Eles foram os dois únicos casos suspeitos em 1998. No ano de 1999, em janeiro, no município de Honório Serpa, pertencente a 7ª Regional de Saúde de Pato Branco, ocorreu um caso suspeito de leptospirose, cuja sorologia resultou negativa. O paciente, após queda do leito no hospital onde esteve internado, fez fratura de crânio, vindo a falecer no dia 20/01/99. O Laboratório Central do Estado guardou parte do soro utilizado para o diagnóstico de leptospirose e, com a confirmação do primeiro caso de hantavírus em outubro/99, enviou o mencionado soro para diagnóstico de hantavírus, que resultou positivo para o vírus Sin Nombre, sendo este, portanto, o primeiro caso confirmado laboratorialmente no Estado do Paraná, mas não o caso índice, já que só ficou conhecido em novembro.
No mês de agosto de 1999, em Cruz Machado, a paciente A. N. K., trabalhadora na área rural, apresentou quadro de insuficiência respiratória aguda e evoluiu para óbito. Os profissionais que a atenderam no Hospital Regional de União da Vitória suspeitaram de hantavirose e coletaram amostra para exame laboratorial.
Em outubro de 1999, o Instituto Adolfo Lutz de São Paulo confirmou a positividade para hantavírus Sin Nombre. Este caso se constitui no “caso índice”, uma vez que foi o primeiro caso confirmado da doença. Logo após a confirmação do primeiro caso em Cruz Machado em outubro/99 – (A.N.K.) – profissionais do nível central do CSA se deslocaram até a residência da vítima para a análise epidemiológica do caso, quando se constatou a presença de inúmeros locais ou fatores de risco do meio ambiente, como presença de roedores, paióis com depósito de milho, feijão, ou outros alimentos, não sendo possível estabelecer o local ou a maneira de transmissão. Em seguida procederam-se várias reuniões com a comunidade local, professores, sindicatos, associações, ‘profissionais da área de saúde, agricultores, políticos, etc... com a finalidade de explicar o que estava ocorrendo e a maneira de se prevenir outras ocorrências. Na cidade de União da Vitória – sede da 6º R.S. procedeu-se a uma reunião técnica com médicos e enfermeiros de todos os municípios que pertencem à 6º R.S. inclusive médicos de hospitais (UTI), para se estabelecer o diagnóstico, a terapêutica de suporte e o encaminhamento de pacientes (referências). Confeccionou-se o Manual de Hantavírus, que foi distribuído para todos os médicos e Postos de Saúde da R.S., contemplando, basicamente, o atendimento emergencial.
Após essas atividades, é que apareceram os últimos 3 casos que, por terem sido atendidos com presteza e qualidade, face à suspeita clínica, obtiveram a cura. Todos os óbitos ocorreram antes da confirmação laboratorial do “caso índice”. Até o final do ano de 1999, havia o registro de dez casos de hantavirose no Paraná. Dentre eles, cinco foram confirmados laboratorialmente pelo encontro de IgM para o vírus Sin Nombre e cinco foram considerados como suspeitos em razão das histórias epidemiológicas e clínicas apresentadas. Desses dez casos, sete evoluíram para óbito e os três últimos para a cura.
No ano de 2000, novos casos apareceram, a partir de agosto, todos envolvidos com corte de Pinus, no município de General Carneiro. Até a presente data (1/12/00) sete casos foram confirmados para hantavírus Sin Nombre pelo Instituto Adolfo Lutz. Desses sete casos, dois evoluíram para óbito. Novas reuniões com a comunidade local, envolvendo empresários da madeireira, professores, profissionais da área de saúde, e outros foram realizadas. Com os madeireiros foram discutidas também, medidas de controle para serem implementadas imediatamente em todos os acampamentos, como: guarda de alimentos para pessoas e para animais, coleta de lixo, restos de alimentos, fossas sépticas e outras que, de alguma maneira, possam atrair roedores e
a construção de novas habitações à prova de roedores também foram objetos de discussões.
Em novembro de 2000, houve sete óbitos na 5ª Regional de Saúde, nos municípios de Arroio Bonito, Guarapuava, Laranjeiras do Sul, Turvo e Pinhão de sete pessoas que trabalhavam em área de reflorestamento de Pinus. Desses casos, três foram confirmados laboratorialmente, seis foram a óbito e quatro ainda aguardam resultado do Instituto Adolfo Lutz. Na 2ª Regional de Saúde, tivemos dois casos confirmados por laboratório, com dois arqueólogos que estavam realizando pesquisas arqueológicas na região da represa Capivari-Cachoeira, nos municípios de Campina Grande do Sul e Bocaíuva do Sul. Haverá uma reunião técnica com todas as RS e Secretarias Municipais de Saúde do Estado para implantar a vigilância epidemiológica de hantavirose no Paraná, incluindo-se a necessidade do diagnóstico precoce e pronta intervenção para evitar óbitos. Também será implantada a vigilância ecoepidemiológica de roedores. E, para isso, haverá aquisição de equipamentos de segurança, apoio técnico do Instituto Adolfo Lutz, capacitação prévia de pessoal para identificação de reservatórios (roedores silvestres) da hantavirose no Paraná. Já está sendo confeccionado o material técnico e educativo para informar os profissionais de saúde e população em geral a respeito da hantavirose.

 
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