Intoxicação Aguda por Agrotóxicos
São chamadas AGROTÓXICOS as substâncias químicas utilizadas pelo homem no controle de organismos considerados pragas, sejam esses animais, vegetais, fungos ou micro-organismos; essas substâncias podem ser empregadas em indústrias, na agricultura, pecuária, veterinária, saúde humana ou campanhas sanitárias.
O termo AGROTÓXICO passou a ser utilizado, no Brasil, para denominar as substâncias destinadas ao setor agropecuário, florestal, urbano, entre outros, colocando em evidência a toxicidade desses produtos ao meio ambiente e à saúde humana.
“Agrotóxicos e afins são os produtos e os componentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores do crescimento.” (BRASIL, 1989).
Lei Federal nº 7.802 de 11/07/89, no seu Artigo 2º, Inciso I
Essas substâncias foram desenvolvidas para interferir em processos biológicos naturais, portanto todas têm PROPRIEDADES TÓXICAS altamente prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente.
Quase todos os agrotóxicos são misturas ou preparações com um ou mais PRINCÍPIOS ATIVOS, contendo também aditivos, solventes, coadjuvantes, excipientes e impurezas, que podem ser tão ou mais tóxicos que o princípio ativo principal.
São também utilizados os seguintes sinônimos para o termo AGROTÓXICO: praguicida, pesticida, biocida, agroquímico, defensivo agrícola, produto fitossanitário e desinfestante domissanitário.O Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos, sendo a agricultura a que mais utiliza essas substâncias químicas tóxicas, tais como, inseticidas, herbicidas, fungicidas, desfolhantes e preservantes de madeira e dessecantes. São também amplamente utilizados no ambiente doméstico para o controle de baratas, mosquitos, roedores e na jardinagem amadora.Na Medicina Veterinária são usados como medicamentos para o tratamento de endoparasitas e ectoparasitas, como por exemplo, carrapatos, piolhos, moscas de chifre, miíase.Na saúde pública são utilizados para o controle de vetores de doenças.Também são usados para o tratamento de madeira para construção, armazenamento de grãos e sementes, produção de flores e na pecuária.
Os Impactos dos Agrotóxicos
Efeito sobre o meio ambiente
A persistência de um agrotóxico no ambiente depende da eficiência dos processos físicos e biológicos (evaporação, absorção/degradação por organismos, lixiviação, erosão), características do ambiente (temperatura, conteúdo de matéria orgânica, acidez, umidade) e características do composto químico (como a taxa de degradação do agrotóxico).
Os agrotóxicos podem contaminar espécies que não eram alvo do processo de controle, inclusive a espécie humana e compartimentos abióticos do ecossistema, como a água, o ar e o solo.
Com relação ao solo, pode-se afirmar que os agrotóxicos, componentes e afins, causam impactos negativos , podendo acarretar a seleção de organismos ampliando o desequilíbrio e resultando em maiores prejuízos ambientais. O uso de agrotóxicos também pode diminuir a variabilidade genética das espécies vegetais e animais que estão presentes no ambiente em que são utilizados.
Com relação ao ar, pode-se considerar que a contaminação por deriva pode atingir os recursos hídricos, fauna e flora que não são alvo da utilização.
A poluição e a contaminação dos recursos naturais são outros efeitos dos agrotóxicos no ambiente. Se uma área agrícola localizada em região de manancial ou próxima a nascentes do corpo de água responsável pelo abastecimento de água de um município, a utilização de agrotóxicos pode afetar a qualidade da água consumida, expondo não somente os trabalhadores rurais ou pessoas próximas a essa lavoura, mas toda a população que consome a água.
Ao contaminar os corpos de água, os agrotóxicos alteram a biota, selecionando espécies mais resistentes, acumulando compostos químicos nocivos por toda a cadeia alimentar (biomagnificação). É uma contaminação que persiste por anos, mesmo quando a fonte de contaminação por agrotóxicos tenha sido eliminada.
Os agrotóxicos atingem o solo pela incorporação direta, pelas sementes que são tratadas por fungicidas e inseticidas e por herbicidas no controle de plantas consideradas daninhas ou invasoras. No solo, a contaminação por praguicidas pode torná-lo frágil ou ainda prejudicar a vegetação que o cobre, em função da absorção desses compostos químicos nocivos.
Uma vez no solo, os agrotóxicos podem infiltrar e atingir as águas subterrâneas e comprometer o abastecimento de água (por exemplo, atrazina e simazina com alta percolação). Além da absorção, quantidades de agrotóxicos são lixiviados juntamente com parte do solo e da vegetação pelas águas das chuvas atingindo os rios e lagos e, em consequência, os oceanos.
Outro problema relacionado a agrotóxicos e meio ambiente é a questão da reutilização, o descarte ou destinação inadequada das embalagens vazias que favorecem a contaminação ambiental e provocam efeitos adversos à saúde humana, de animais silvestres e domésticos.
De acordo com legislação, as embalagens vazias devem ser devolvidas aos estabelecimentos comerciais e recolhidas pelas empresas produtoras e comercializadoras, que devem dar destinação adequada.
Diversos relatos na literatura associam o fracasso reprodutivo de espécies de animais à contaminação ambiental por agrotóxicos. Um dos mais estudados é o DDT, um organoclorado muito utilizado na época da Segunda Guerra Mundial. Entre os efeitos do DDT, Flores et al. (2004) elenca o fracasso da reprodução da truta-do-mar no Texas, da águia-marinha no Báltico e redução da população de aves de rapina em consequência da deficiência na formação da casca dos ovos.
Efeito sobre a saúde humana
As intoxicações ocorrem quando há exposição a uma ou mais substâncias tóxicas, seja essa exposição INTENCIONAL (tentativa de suicídio, de homicídio, de abortamento), ACIDENTAL (reutilização de embalagens, fácil acesso das crianças a produtos); OCUPACIONAL (no exercício da atividade de trabalho) ou AMBIENTAL (água, ar, solo contaminados, proximidade de áreas pulverizadas, cadeia alimentar).
A gravidade de uma intoxicação por agrotóxico dependerá:
- da via de contaminação;
- do tempo de exposição;
- da toxicidade da substância;
- da concentração da substância;
- das condições ambientais;
- da oportunidade de acesso ao serviço de saúde, quando o acesso precoce ao serviço oportuniza tratamento adequado, diminuição de morbidade e mortalidade.
As VIAS DE EXPOSIÇÃO (ou de ingresso da substância no organismo) nas intoxicações por agrotóxicos podem ser:
Dérmica/Cutânea: a pele é a via mais frequentemente exposta às substâncias químicas. Muitas substâncias podem ser absorvidas pela pele íntegra, não havendo necessidade de solução de continuidade; os efeitos podem ser locais ou pode haver absorção significativa e comprometimento sistêmico.
Inalatória: Via bastante comum e muito eficiente para a absorção de gases, vapores, aerossóis, com lesões das vias aéreas e comprometimento respiratório.
Ocular: O contato ocular com substâncias químicas pode ocasionar graves lesões nos olhos, com sequelas permanentes.
Aspiração: Pela entrada na traqueia de substância líquida ou sólida diretamente pela via oral ou nasal, ou ainda por regurgitação de conteúdo gástrico.
Digestiva: Geralmente relacionada às intoxicações intencionais e de maior gravidade.
AS VIAS DE EXPOSIÇÃO NAS INTOXICAÇÕES POR AGROTÓXICOS PODEM SER SIMULTÂNEAS E NÃO EXCLUDENTES.
As intoxicações por agrotóxicos podem ser classificadas da seguinte forma:
INTOXICAÇÃO AGUDA: É a intoxicação decorrente de um único contato (dose única) ou múltiplos contatos (doses repetidas) com um agrotóxico (ou mistura de agrotóxicos) em um período de 24 horas. Os efeitos podem surgir de imediato ou no decorrer de alguns dias, no máximo duas semanas, dependendo do princípio ativo. A depender da quantidade de produto absorvida, a intoxicação pode ocorrer de forma leve, moderada ou grave.
INTOXICAÇÃO SUBAGUDA: Os sintomas são vagos e subjetivos e podem surgir após horas ou dias após a exposição.
INTOXICAÇÃO CRÔNICA: Surgimento tardio, após meses ou anos de exposição, acarretando danos muitas vezes irreversíveis. Os sintomas são subjetivos, o diagnóstico e nexo causal são difíceis de serem estabelecidos.
De maneira geral costuma-se caracterizar como POPULAÇÃO EXPOSTA aos agrotóxicos os seguintes grupos populacionais em especial:
- Trabalhadores do setor agropecuário (agricultores, agropecuaristas, veterinários): trabalhadores que fazem a preparação da calda, aplicadores de agrotóxicos nas lavouras (pulverizadores costais, com tração animal, com uso de tratores), a entrada na lavoura após pulverização para colheita, capina; a aplicação de agrotóxicos em animais de produção ou domésticos, pulverização aérea, entre outros.
- Trabalhadores que fazem manejo florestal e manejo de ecossistemas hídricos;
- Trabalhadores de madeireiras, desde o corte até o beneficiamento para comercialização.
- Trabalhadores que atuam no controle de endemias e de zoonoses em saúde pública: pulverização de agrotóxicos para eliminação de focos de vetores tem exposição contínua durante longo tempo a diferentes agrotóxicos.
- Trabalhadores de empresas desinsetizadoras: durante a preparação do agrotóxico e aplicação. Ambientes após desinsetização também pode ser responsáveis por intoxicações para aplicadores e frequentadores do local.
- Trabalhadores de indústrias de agrotóxicos: operários de linha de produção, pessoal de manutenção, limpeza, lavanderia, profissionais de assistência técnica.
- Trabalhadores do setor de transporte, armazenamento e comercialização de agrotóxicos: acidentes no transporte, armazenamento, embalagens inadequadas, entre outros.
- Profissionais de jardinagem.
- População de área rural: estão expostos os trabalhadores rurais, as famílias das unidades produtivas, e todo o entorno. Há o acesso facilitado ao agrotóxico, processo de pulverização, deriva de agrotóxico (quando o vento desvia o alvo e o agrotóxico acaba atingindo outros pontos não previstos de aplicação), lavagem de equipamentos, lavagem de roupas, pulverização aérea, contaminação ambiental do solo e água, entre outros.
- População em geral: através do consumo de alimentos com resíduos de agrotóxicos; uso, abuso e acidentes com agrotóxicos de uso doméstico (inseticidas), uso de agrotóxicos de jardinagem amadora com os mesmos princípios ativos de agrotóxicos de uso agrícola.
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