Protagonismo Juvenil
A adolescência é uma etapa da vida de grandes transformações, segundo Cedaro et al (2012) na adolescência, são estabelecidos padrões básicos de comportamento que se perpetuam ao longo da vida, entre os quais aqueles pertencentes ao campo da sexualidade. Nesse momento de grandes transformações biopsicossociais, costuma ocorrer a iniciação sexual, muitas vezes sem a orientação prévia de um adulto responsável, o que possibilitaria aos adolescentes fazerem escolhas conscientes, considerando desejo, prazer e riscos levando a possibilidade de maior vulnerabilidade às Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), entre elas o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS).
Conforme descrito no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas de IST (PCDT) do Ministério da Saúde (MS), a sexualidade é definida como uma questão essencial do ser humano que contempla sexo, identidades, papéis de gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução, sendo influenciada por uma relação de aspectos biológicos, psicológicos, socioeconômicos, políticos, culturais, legais, históricos, religiosos e espirituais (BRASIL, 2020a).
E nesse sentido, para alcançar o sucesso nas orientações referentes à educação sexual e reprodutiva, fortalecendo a importância da prevenção entre os jovens, é necessário estabelecer uma relação de confiança e principalmente, contemplar os mais diversos grupos, entre eles uma especial atenção para a população LGBTQI+, livre de preconceitos e estigmas.
Estudos indicam que a infecção pelo HIV atinge desproporcionalmente a população de pessoas travestis e transexuais e pode ser ainda mais prevalente entre aquelas que se encontram em vulnerabilidade, como em situação de rua, os indígenas, jovens negros, etc. (SÃO PAULO, 2020; UNAIDS, 2017, MAGNO et al, 2019).
Assim, o direito à vida, à alimentação, à saúde, à moradia, à educação, ao afeto, direitos sexuais e os direitos reprodutivos são considerados Direitos Humanos fundamentais. Respeitá-los é promover a vida em sociedade, sem discriminação de classe social, de cultura, de religião, de raça, de etnia, de profissão ou de orientação sexual (BRASIL, 2020a).
O momento atual é atípico, isto é, sem precedentes, pois estamos vivenciando a pandemia da COVID-19. Pois desde que, foi identificado esta infecção que tem como característica uma velocidade elevada de transmissão e disseminação entre a população, os serviços de saúde estão sobrecarregados com esta demanda (BRASIL,2019).
Em decorrência disso, às ações de prevenção das IST/HIV/AIDS, passaram a um segundo plano, pois o combate ao COVID-19 passou a ser uma prioridade devido a sua morbimortalidade, dificultando o acesso das pessoas aos serviços de saúde e impactando na redução do acesso ao diagnóstico precoce.
O HIV, desde os primeiros casos, sempre foi cercado de estigma e preconceito. A Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA) afirma que o grande avanço do conservadorismo no país vem comprometendo anos de reconhecidas conquistas e avanços na luta contra as IST/HIV/AIDS, e consequentemente silenciando temas sobre sexualidade, gênero e práticas sexuais. Ainda, nos deparamos com um ponto que sempre gerou polêmica, que é referente à educação sexual nas escolas, pois a educação sexual e reprodutiva muito contribui para o cuidado na prevenção desses referidos agravos.
Assim, mesmo com todos esses acontecimentos inesperados, não devemos deixar que esses agravos tornem-se negligenciados, mas devemos sim fortalecer e retomar intensamente a ampla divulgação das informações do cuidado e prevenção, principalmente com os adolescentes.
Partindo dessa perspectiva, o MS adota como estratégia para a prevenção ao HIV/AIDS a prevenção combinada, que consiste no uso simultâneo de diferentes abordagens de prevenção que incluem a área biomédica, comportamental e estrutural (BRASIL, 2017).
Na intervenção biomédica as estratégias estão voltadas a redução do risco de exposição, mediante intervenção na interação entre o HIV e a pessoa passível de ser infectada (distribuição de preservativos interno e externo, distribuição de gel lubrificante, oferta de testagem, tratamento para todas as pessoas, Profilaxia Pós-Exposição (PEP), Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), tratamento das IST e imunização) (BRASIL, 2020a).
Nas intervenções comportamentais as estratégias contribuem para o aumento da informação e da percepção do risco á exposição ao HIV e para sua consequente redução, mediante incentivos à mudança de comportamento do indivíduo e da comunidade ou grupo social em que está inserido (incentivo ao uso de preservativo, aconselhamento ao HIV/AIDS e outras IST, incentivo á testagem, estratégia de comunicação e educação entre pares, campanhas de prevenção em HIV e outras IST) (BRASIL, 2020a).
As Intervenções estruturais são estratégias voltadas a enfrentar fatores e condições socioculturais que influenciam diretamente a vulnerabilidade de indivíduos ou grupos sociais específicos ao HIV, em razão de preconceito, estigma, discriminação ou qualquer outra forma de alienação dos direitos e garantias fundamentais á dignidade humana, (ações de enfrentamento ao racismo, sexismo, homofobia, transfobia, demais preconceitos; promoção e defesa de direitos humanos, campanhas educativas e de conscientização, marcos legais e ações programáticas que impactem nos determinantes sociais) (BRASIL, 2020a).
Deste modo, o conhecimento mostrou-se ser um dos métodos eficazes de prevenção, pois é através da informação e discussão dos temas ligados à sexualidade, direitos sexuais reprodutivos praticas de autocuidado, autonomia e educação entre pares, que é possível proteger e promover a saúde integral dos nossos jovens.
Conforme descreve Taquette (2013), e seguindo a mesma linha da Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde sexual e reprodutiva (SSR) é o estado de completo bem-estar físico, mental e social em todos os aspectos relacionados ao sistema reprodutivo, e não a simples ausência de doença ou enfermidade. É a habilidade de pessoas para desfrutar e expressar sua sexualidade sem risco de doenças sexualmente transmissíveis, gestação não desejada, coerção, violência e discriminação.
Justificativa
Em adolescentes e jovens o risco de contrair IST/HIV/AIDS tem aumentado nos últimos anos (MONTEIRO, et al., 2019). Assim, a temática da sexualidade deve estar presente nas ações de informação, comunicação e educação em saúde para adolescentes e jovens (BRASIL, 2020b).
De acordo com a UNAIDS (2019), existem no mundo 38 milhões de pessoas vivendo com HIV e 690.000 mil pessoas morreram de doenças relacionadas à AIDS.
No Brasil, em 2019, foram diagnosticados 41.909 novos casos de HIV e 37.308 casos de AIDS – notificados no Sistema de Informação de Notificação de Agravos (SINAN), declarados no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) e registrados no Sistema de Controle de Exames Laboratoriais (Siscel) e Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (Siclom), com uma taxa de detecção de 17,8/100 mil habitantes. No período de 1980 a junho de 2020, 1.011.617 casos de AIDS foram detectados no país (BRASIL 2020b).
No período de 2007 a junho de 2020, no que se refere às faixas etárias, observou-se que a maioria dos casos de infecção pelo HIV encontra-se no grupo de 20 a 34 anos, com percentual de 52,7% dos casos (BRASIL 2020b).
No Paraná, em 2019, foram notificados 2569 novos casos de HIV e 1049 casos de Aids, notificados no Sinan, correspondendo as taxas de detecção de HIV em 22,5/100 mil habitantes e de Aids em 9,2/100 mil habitantes.
No período de 2007 a 2020, no que se refere à faixa etária, a maioria dos casos se concentra no grupo de 15 a 29 anos, com percentual de 47% dos casos, porém fica evidente que quando incluímos o grupo com idade de 15 a 39 anos o percentual se eleva a 73% da totalidade dos casos registrados no SINAN.
Objetivo geral
Capacitar jovens para participar ativamente de todo o processo de enfrentamento das IST/HIV/AIDS, proporcionando melhoria e qualidade na atenção integral dos jovens vivendo com HIV e outras IST no Estado do Paraná.
Objetivos específicos
- Motivar a discussão entre os pares, para multiplicar e compartilhar os conhecimentos dos jovens referentes a estes agravos.
- Realizar workshop, reuniões, campanhas aos dias alusivos dos agravos, envolvendo os jovens no papel de protagonistas.
- Reforçar a importância do combate a discriminação e o estigma, pois estão entre os principais obstáculos para a prevenção, tratamento, cuidado em relação ao HIV/AIDS e as IST.
- Divulgar as mais diversas formas de prevenção (prevenção combinada) a fim de interromper a cadeia de transmissão.
- Reduzir o adoecimento e mortalidade por AIDS e outras IST.
- Fortalecer a atenção integral dos jovens vivendo com HIV e outras IST.
- Articular com Organização da Sociedade Civil (OSC), Fórum ONG-Aids e ONG, Rede de jovens, Conselho e Comitês Municipal e Estadual de Saúde, Centro de Pesquisa e Atendimento a Travestis e Transexuais (CPATT), Conselho da Juventude, Ambulatório especializado em adolescente, Serviços de Atendimento Especializado (SAE) Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), CAPS AD, CAPS infantil, acadêmicos e demais instituições ou órgãos a fins, incluindo os jovens no processo de planejamento e execução das ações.
Público-alvo
Jovens de 14 a 29 anos e jovens vivendo com HIV, da mesma faixa etária, residentes no Estado do Paraná.
Inscrição
Protagonismo Juvenil: uma estratégia positiva - Formulário de Inscrição
Metodologia
O desenvolvimento desse projeto iniciará com a captação de jovens lideranças, selecionados por: profissionais de saúde das regionais de saúde onde os mesmos residem; por indicação pelos vários segmentos e instituições governamentais ou não, citados no objetivo específico nº7.
A partir disso, os jovens selecionados participarão ativamente de todo o processo, desde a construção ao planejamento, execução das ações e estratégias que melhor representarão os mesmos como protagonistas.
Todos os jovens selecionados preencherão seus dados em um formulário, registrando a participação com a assinatura de termo de consentimento livre e esclarecido, que envolverá principalmente discrição, privacidade e sigilo.
A faixa etária para a indicação será de 14 anos a 29 anos, ou pertencer ao grupo de Pessoas Vivendo com HIV (PVHIV).
Serão encaminhados ofícios circulares para diretores e coordenadores regionais de IST/HIV/AIDS com orientações para a seleção, bem como para o acompanhamento em todas as fases do processo que envolverá reuniões (neste momento de forma virtual), deliberações e demais ações que irão acontecer no decorrer do ano.
As reuniões serão mensais, todas as segundas terça-feira de cada mês, das 14hs às 16hs, com os coordenadores regionais, os jovens participantes e convidados.
O desenvolvimento das estratégias, campanhas de incentivo a prevenção, orientações, realização de ações de rotinas com disponibilização de preservativos, gel lubrificante e autoteste, programação de ações pontuais que seriam aos dias alusivos dos agravos serão de responsabilidade de toda a equipe.
Esse processo será amplamente divulgado, contando com as mais diversas parcerias, inter e intrasetoriais, extensivo a outras secretarias estaduais.
Cronograma 2021*
Período | Jan | Fev | Mar | Abr | Mai | Jun | Jul | Ago | Set | Out | Nov | Dez |
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Reunião com os coordenadores das regionais | X | X | X | X | ||||||||
Reunião com GT e coordenadores das regionais | X | X | X | X | X | X | X | X | X | X | X | |
Ações Pontuais (datas alusivas) | X | X | X | X | X | |||||||
Ações de Rotina | X | X | X | X | X | X | X |
*Cronograma preliminar, sujeito a alterações.
Programação detalhada
- Janeiro - Reunião com os coordenadores das regionais para apresentar o projeto, e orientações para a seleção de jovens lideranças.
- Fevereiro - Reunião com os jovens lideranças e coordenadores que terá como pauta a construção conjunta da campanha estadual para o carnaval, por meio das redes sociais.
- Março - Reunião com GT para feedback da ação de carnaval. Orientações dia Alusivo a Tuberculose.
- Abril - Reunião terça feira on-line e ações de rotina
- Maio - Reunião terça feira on-line e ações de rotina.
- Junho - Reunião terça feira on-line e ações de rotina.
- Julho - Reunião com os jovens lideranças e coordenadores que terá como pauta a construção conjunta da campanha estadual para o dia alusivo das Hepatites Virais, via redes sociais.
- Agosto - Reunião terça feira on-line e ações de rotina.
- Setembro - Reunião terça feira on-line e ações de rotina.
- Outubro - Reunião terça feira on-line e ações de rotina.
- Novembro - Reunião terça feira on-line e ações de rotina Reunião com os jovens lideranças e coordenadores que terá como pauta a construção conjunta da campanha Estadual para o dia alusivo ao HIV/AIDS, por meio das redes sociais.
- Dezembro - Reunião de encerramento anual e feedback das ações desenvolvidas durante o ano.
Referências
ABIA associação brasileira interdisciplinar de AIDS. Prevenção, Tratamento e Assistência.
Disponível em: http://abiaids.org.br/prevencao-tratamento-e-assistencia-visao-geral Acesso em: 01/2021.
BRASIL. Ministério da Saúde. Coronavírus (Covid-19).
Disponível em: https://coronavirus.saude.gov.br/ Acesso em: 01/2021.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde Departamento de DTS, Aids e Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2020. Brasília: Ministério da Saúde, 2020b.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde Departamento de DTS, Aids e Hepatites Virais. Cinco passos para a prevenção combinada ao HIV na Atenção Básica.
Brasília: Ministério da Saúde, 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde Departamento de DTS, Aids e Hepatites Virais. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para atenção integral ás pessoas com infecções sexualmente transmissíveis. Brasília: Ministério da Saúde, 2020a.
CEDARO, J. J. VILAS BOAS, L. M. S. MARTINS, R. M. Adolescência e Sexualidade: Psicologia ciência e profissão Porto Velho - RO,2012.
MAGNO, L. SILVA, L. A. V. VERAS, M. A. SANTOS, M. P. DOURADO, I. Estigma e discriminação relacionados à identidade de gênero e à vulnerabilidade ao HIV/aids entre mulheres transgênero: revisão sistemática. Cadernos de Saúde Pública. Vol. 35; n. 4, 2019.
MONTEIRO, A. P . V. ANDRADE K. S. SANTOS W. L. O aumento do HIV entre jovens e a aderência da profilaxia de pré-exposição (PrEP) como intervenção. Revista JRG de Estudos Acadêmicos. Vol. 2; n. 5, 2019.
PARANÁ. SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE. Divisão de Doenças Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Acesso em: 12/2020
Pereira et AL. HIV/aids, hepatites virais e outras IST no Brasil: tendências epidemiológica.Brasília, Revista Brasileira epidemiologia, 2019.
SÃO PAULO. Secretaria Municipal da Saúde. Coordenação da Atenção Primária à Saúde. Protocolo para o atendimento de pessoas transexuais e travestis no município de São Paulo. São Paulo, 2020.
TAQUETTE, S. R. Direitos sexuais e reprodutivos na adolescência. Rio de Janeiro, v. 10, supl. 1, p. 72-77, abril 2013.
UNAIDS. Deus positivo e agora.org
Disponível em: https://unaids.org.br/estatisticas/ Acesso em: 01/2021.
Proposta e sugestões para o desenvolvimento das ações
A fim de auxiliar os grupos para a realização do trabalho, destacamos alguns passos para o desenvolvimento do projeto localmente, sendo um material norteador ficando a critério de cada localidade adaptar as sugestões aqui propostas:
- Conhecer o território e suas peculiaridades; importante observar as especificidades de cada local e sua realidade;
- Analisar o perfil epidemiológico das IST no território;
- Identificar os principais problemas;
- Organizar uma lista de prioridades para serem desenvolvidas;
- Elaborar um plano local com as estratégias que serão desenvolvidas;
- Planejar atividades voltadas a promoção da saúde e prevenção das IST;
- Trabalhar temas referentes ao acolhimento e aconselhamento nos serviços de saúde;
- Criar uma rede de jovens protagonistas promovendo a educação entre os pares;
-
Produção de conteúdos com foco na promoção da saúde e prevenção das IST.
Material e Métodos
- Será disponibilizado material digital para divulgação nas redes sociais e mídias digitais;
- Realização de workshop e rodas de conversa envolvendo temas afins (saúde sexual e reprodutiva, métodos de prevenção, etc.);
- Cinemateca voltada aos temas relacionados aos objetivos do projeto;
- Lives com convidados direcionados aos temas trabalhados;
- Demonstração, distribuição e divulgação dos insumos de prevenção como: preservativo, gel lubrificante e autotestes.
- Trabalhar na ampla divulgação dos locais que realizam testes rápidos e dos serviços especializados em seus territórios.
- Conversa sem filtro: Reuniões com rodas de conversas entre os jovens.
Materiais Desenvolvidos
Contato
E-maill: protagonismojuvenilpr@gmail.com
E-mail: dstaids@sesa.pr.gov.br
Divisão de Doenças Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DDCIST)
- Chefe de Divisão: Mara Carmen Ribeiro Franzoloso
- E-mail: mara.carmen@sesa.pr.gov.br
- Camila Menezes
- E-mail: camila_menezes@sesa.pr.gov.br
- Telefone: (41) 3330-4635
- Juliana Taques
- E-mail: julianataques@sesa.pr.gov.br
- Telefone: (41) 3330-4617